Este artigo resume os resultados principais de um estudo sobre comportamento motivacional, feito em 250 empresas brasileiras. Os dados empíricos coletados permitem concluir que a personalidade de cada um afeta o grau em que as variáveis motivacionais podem se deixar refletir no comportamento observável. O principal enfoque apresentado mostra que os estímulos externos não são suficientemente fortes para influenciar a direção desse comportamento motivacional. Não foi descoberta nenhuma possível relação entre o estilo de comportamento motivacional e as variáveis ambientais.
Poucos artigos ou mesmo trabalhos mais extensos, cujo objetivo principal tenha sido o de pesquisar em maior profundidade o fenômeno da motivação humana dentro das empresas brasileiras, têm vindo a público. Isso representa uma lacuna que precisa ser preenchida a fim de que os administradores possam caminhar com passos mais seguros sobre esse terreno. Essa segurança não pode tomar por base simples opiniões ou crenças, mas sobretudo, exige o apoio de dados fornecidos pela pesquisa empírica.
O presente trabalho deverá esboçar algumas conclusões às quais foi possível chegar, depois de quase dez anos de pesquisa junto a organizações tipicamente nacionais. Além disso, serão retomados alguns pressupostos teóricos com o objetivo de caracterizar, o mais claramente possível, sob que aspectos, enfoques ou conceitos está-se entendendo o termo motivação, uma vez que numerosos e diferentes pontos de vista existem sobre esse assunto na atualidade, dentro do capítulo denominado comportamento organizacional.
A DINÂMICA DA MOTIVAÇÃO
Recentemente, num interessante artigo, Gooch e McDowell assim se exprimiram: “Muito frequentemente, as pessoas não fazem aquilo que lhes pedimos para fazer, simplesmente porque elas não querem fazer esse tipo de trabalho”. Um pouco mais adiante, complementam suas ideias da seguinte maneira: “A motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar a outra, o que ela pode fazer é estimular a outra. A probabilidade de que uma pessoa siga uma orientação de ação desejável está diretamente ligada à força de um desejo”1.
Outros autores também se referem de maneira semelhante a esse aspecto interior do fenômeno da motivação, deixando sempre implícita a crença de que nada se pode fazer em termos motivacionais, a menos que a própria pessoa não esteja pessoalmente envolvida nesse processo: “E evidente que todo o desempenho supõe que duas condições sejam preenchidas: que se seja capaz de executá-lo (aptidões) e que se tenha a vontade (motivação)”2. Para concluir seu pensamento, Leboyer acrescenta: “Mas nosso propósito aqui não é o de analisar os determinantes do desempenho, mas somente situar e definir concretamente a motivação. Tenhamos em mente, então, que essencialmente se trata de um processo que implica na vontade de efetuar um trabalho ou de atingir um objetivo, o que cobre três aspectos: fazer um esforço, manter esse esforço até que o objetivo seja atingido e consagrar a ele a necessária energia. Em outros termos, por motivação, entende-se, ao mesmo tempo, a direção e a amplitude das condutas, quais comportamentos são escolhidos com que vigor e qual intensidade”3. Assim sendo, as pessoas consagram mais tempo às atividades para as quais são motivadas. Portanto, “a motivação é, em última análise, uma distribuição do tempo disponível”,4 é uma questão de alocação de tempo. É, então, possível considerar que a motivação do ser humano seja uma função tipicamente interna a cada pessoa, uma força propulsora que tem suas fontes frequentemente escondidas no interior de cada um e cuja satisfação ou insatisfação fazem parte integrante de sentimentos que são tão somente experimentados dentro de cada pessoa.
Não foram considerados, para fins da presente pesquisa, aqueles aspectos defendidos pela corrente comportamentalista ou behaviorista. Está sendo assumido que todos os comportamentos exibidos pelas pessoas, a partir da presença de reforçadores extrínsecos a elas, podem ser caracterizados como reação a estímulos, o que permite classificá-los como comportamentos condicionados. Procurou-se pesquisar o homem a partir da visão fenomenológica, na qual aquilo que mais importa é configurar a ação motivacional a partir da realidade existencial dos sujeitos pesquisados nos seus ambientes naturais de trabalho.